Marcas Invisíveis; Os Efeitos Psicológicos da Violência em Mulheres
Abuso invisível, marcas profundas: a violência psicológica corrói a saúde mental da mulher e exige atenção, empatia e ação urgente da sociedade.
A violência psicológica é uma forma de agressão silenciosa, muitas vezes invisível aos olhos de quem está de fora, mas profundamente destrutiva para quem a vive. Mulheres que sofrem esse tipo de abuso enfrentam diariamente palavras humilhantes, manipulação emocional, isolamento social, chantagens e ameaças sutis ou diretas.
Os impactos psicológicos são profundos e duradouros. Muitas mulheres desenvolvem quadros de ansiedade, depressão, baixa autoestima e até transtorno de estresse pós-traumático (TEPT). A constante desvalorização mina sua confiança e as faz duvidar de sua própria percepção da realidade um fenômeno conhecido como “gaslighting”, uma técnica de manipulação que faz a mulher duvidar da própria sanidade. Aos poucos, a vítima passa a acreditar que está exagerando ou que é responsável pelo comportamento do agressor. O agressor utiliza palavras, gestos, humilhações, controle emocional e manipulações para dominar, amedrontar e anular sua vítima.
Um dos mecanismos mais cruéis dessa forma de violência é a culpabilização da mulher. O agressor constantemente transfere a responsabilidade por seus próprios atos, fazendo com que a vítima acredite que é ela quem está errada, exagerando ou “provocando” o conflito. A vítima por sua vez, acaba acreditando ser responsável pela agressão. Por isso, o suporte psicológico e o fortalecimento da autoestima são fundamentais para romper esse ciclo e resgatar sua autonomia.
Ela afeta diretamente a saúde mental da mulher, podendo desencadear transtornos mentais graves, como a depressão profunda, transtornos de ansiedade, fobias sociais e até ideação suicida. O silêncio da vítima é frequentemente mantido pelo medo, pela vergonha ou pela dependência afetiva e/ou financeira. Ela é usada pelo agressor para controlar, intimidar e destruir emocionalmente a vítima, muitas vezes sem deixar evidências físicas.
A violência psicológica evolui em ciclos, o que dificulta que a vítima perceba que está sendo abusada. Com o tempo, o agressor utiliza estratégias emocionais para manter o controle, muitas vezes alternando momentos de agressão com fases de carinho e arrependimento, confundindo ainda mais a vítima.
Esse padrão cíclico é conhecido como o ciclo de violência, e costuma passar pela fase da tensão, da explosão (agressão) e pela fase de “lua de mel” (arrependimento). Nessa última, o agressor demonstra arrependimento e costuma dizer que foi um momento de fraqueza. A vítima, confusa e emocionalmente abalada, muitas vezes acredita na mudança do agressor e o ciclo recomeça. É importante saber identificar essas fases, porque a repetição desse ciclo enfraquece emocionalmente a vítima e dificulta a saída da relação abusiva. A cada volta do ciclo, a violência costuma se intensificar, podendo evoluir para agressão física e em muitos casos, feminicídio.
O papel da sociedade é ouvir, acolher e não julgar. Romper o silêncio é o primeiro passo para quebrar o ciclo da violência.
A violência psicológica não é “drama”, “exagero” ou “briga de casal”. É uma forma real de abuso, e precisa ser reconhecida como sinal de alerta vermelho.
Giselle Queiroz é psicóloga clínica pós graduada em Terapia Cognitivo Comportamental / @psicologa.gisellequeiroz
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